quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A VIDA E AS ESTAÇÕES








Eu Queria que a Vida Fosse Dividida em Quatro Estágios, mas que Não Acabasse Nunca.
A Infância é como a Primavera. 
É Pura Novidade e um Calor que Não Sufoca nem Faz Pensar Bobagens. 
Tem uma Inocência Quase Cafona, uma Singeleza Clássica, e Traz no Íntimo a Certeza de que Pela Frente Vem Coisa Boa. 
A Gente Quer que Passe Logo, mas Sabe que Nunca Mais Será tão Protegido (a ), a Mordomia Não Será Eterna. 
É Quando as Coisas Acontecem pela Primeira Vez. 
É Quando num Arbusto Verde Vemos Surgir Alguns Vermelhos. 
É Surpresa, a Primeira de Uma Série.
A Adolescência é como o Verão. 
Quente, Petulante, Libidinosa.
Parece que Não Vai Haver Tempo para Fazer Tudo o que se Quer e o que se Teme. 
É Musical e Fotogênica. 
Dúvidas, Dúvidas, Dúvidas em Frente ao Mar. 
Mergulha-se no Profundo e no Raso. 
Pouca Roupa, Pouca Bagagem. 
Curiosidade. Vontade que Dure para Sempre. 
Certeza de que Passa.
Noção do Corpo. 
Festas e Religião. 
Amor e Fé.
A Maturidade é como o Outono. 
Um Longo e Instável Outono, que Alterna Dias Quentes e Frios. 
Que nos Emociona e nos Gripa. 
Há Mais Beleza e o Ar é Mais Seco, Porém é Quando se Colhem os Melhores Abraços. 
Ficar Sozinho (a)  Passa a Não Ser tão Aterrorizante. 
Fugimos para a Praia, Fugimos para a Serra. 
As Idéias Aprendem a se Movimentar, a Fazer a Mala Rápido, a Trocar de Rota se o Desejo se Impuser, e Não é Preciso Consultar o Pai e a Mãe antes de Errar. 
É o Outono que Tentamos Conservar.
O Inverno é como a Velhice. 
Tem sua Beleza Igualmente, Exige Lã, Bolsa de Água Quente, Termômetro e uma Janela Bem Vedada. 
O que Não Queremos que Entre? 
Maus Presságios. 
O Inverno é Frio como Despedida de um Grande Amor, mas Sabemos que Tudo Voltará a Ser Ameno. Queremos que Passe, Temos Medo que Termine. 
Ficar Sozinho (a) Volta a Ser Aterrorizante. 
O Inverno é Branco, é Cinza, é Prata. 
É Grisalho.
E, de Repente, Também Passa.
Eu Queria que Tudo Fosse Verdade. 
Que a Vida Fosse Assim Dividida em Quatro Estágios que Mais Parecem Estações do Ano, mas que Não Acabasse. 
Que Depois do Inverno Viesse Outra Primavera, e Outro Verão, e Outro Outono. 
Que Nunca são Iguais, mas Sempre se Repetem, Sempre Voltam. 
São tão Certos Quanto o Sol e a Lua. 
Todo Dia, Toda Noite. 
Eu Queria.





(Martha Medeiros).

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