sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O DESCONCERTO QUE CONSERTA






Odiar é também uma forma de amar. 
Diferente, mas é. 
É que o coração humano nem sempre consegue identificar o sentimento que o move. 
É claro que existem situações em que o ódio é ódio mesmo, mas, em outras, não.

Você já deve ter experimentado isso que estou dizendo. 
Sobretudo no momento em que foi traído, enganado e até mesmo abandonado. 
O sentimento foi de revolta e, nela, o amor muda de cor, configura-se diferente. 
É a mesma coisa que acontece com os animais que se camuflam para sobreviverem às ameaças dos inimigos. 
O camaleão é sempre camaleão, mesmo que não possamos identificá-lo no seu disfarce. 
Da mesma forma fazemos nós.

Quando temos o nosso amor traído, ameaçado pelo descaso do outro, nós nos revestimos de ódio e ressentimentos. 
Mas a fonte é sempre o amor. 
Ele é o referencial de onde parte a nossa reação. 
Nem sempre temos coragem de assumir isso. 
A traição nos trava para a misericórdia. 
E, então, sentimos necessidade de devolver a ofensa com a mesma moeda.

Por isso, dizemos que odiamos. 
Mas só o dizemos, porque o que nos falta é coragem para dizer que amamos.

Camuflados e infelizes.

Camuflar é o recurso que usamos com o objetivo de nos justificarmos diante dos outros. 
É uma forma que temos de nos sentir menos humilhados. 
Não raras vezes, dizer que temos ódio é uma maneira de tentar dar a volta por cima. 
Estranho isso, mas acontece.

Talvez seja por isso que as pessoas andam tão distantes dos seus verdadeiros sentimentos. 
Tememos a fraqueza. 
Tememos que o outro nos flagre no sofrimento que a gratuidade do amor nos trouxe. 
Preferimos assumir uma postura marcada pela agressividade a outra que nos mostrasse em nossa fragilidade.

Nos dias de hoje, cada vez mais, acentua-se a necessidade de ser forte. 
Mas não há uma fórmula mágica que nos faça chegar à força sem que antes tenhamos provado a fraqueza. 
E amar é experimentar a fraqueza. 
É provar o doloroso campo da necessidade, da carência e da fragilidade.

Amar é uma forma de depender, de carecer e de implorar. 
É uma forma de preenchimento de lacunas, visto que o amor é a melhor forma de complementar os espaços.

Admirável desconcerto.

Quem ama sabe disso. 
Quem é amado, também. 
A gratuidade do amor consiste nisso. 
Amar quando o outro não merece ser amado. 
Surpresa maior não há. 
Ser abraçado no momento em que sabemos não merecer ser perdoados. 
O amor verdadeiro desconcerta. 
O perdão e a reconciliação são a prova disso. 
Somente depois de dizermos infinitas vezes "Eu te perdôo" , é que temos o direito de dizer "Eu te amo". Porque, antes do perdão, o que existe é admiração. 
Esse último sentimento não é o mesmo que amar. 
Só amamos aqueles a quem perdoamos. 
E, geralmente, só odiamos aos que amamos, caso contrário seríamos indiferentes.

Pena que tem sido cada vez mais difícil declarar amor no momento em que o outro não merece. 
Não temos coragem de tomar essa atitude, porque ela é chamada de fraqueza, coração mole. 
E, por medo de sermos vistos assim, camuflamos o amor com as roupas do ódio.

Perdemos a oportunidade de atualizar a gratuidade do amor de Deus na precariedade do amor humano e de surpreender o outro com nosso gesto já transformado pela graça divina.

Na sua vida, não tenha medo de ser fraco, já que a fraqueza representa capacidade de amar. 
Quando o outro, pelas mais diversas razões esperar pelo seu ódio, surpreenda-o com o seu amor.

Desconcerte-o e, assim, você ajudará a consertar o mundo.





(Pe. Fábio de Melo).

Um comentário:

  1. BOM DIA INTEIRO DE SEXTA-FEIRA E MUITAS SUPERAÇÕES DE SUAS COVARDIAS COM: O DESCONCERTO QUE CONSERTA!!!

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