segunda-feira, 17 de setembro de 2012

AMOR: PALAVRA ESSENCIAL






Amor — pois que é palavra essencial
Comece esta canção e tudo a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
Reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma a expandir-se
Até desabrochar em puro grito
De orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
Fundido, dissolvido, volta à origem
Dos seres, que Platão viu contemplados:
É um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
A essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
Já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
A fonte, o fogo, o mel se concentram.

Vai a penetração rompendo nuvens
E devassando sóis tão fulgurantes
Que nunca a vista humana os suportara
Mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
Que, além de nós, além da própria vida,
Como ativa abstração que se faz carne,
A ideia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
Menos que isto, sons, arquejos, ais,
Um só espasmo em nós atinge o clímax:
É quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
No úmido subterrâneo da vida,
Nessa morte mais suave do que o sono:
A pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. 
A paz dos deuses,
Estendidos na cama, qual estátuas
Vestidas de suor, agradecendo
O que a um Deus acrescenta o amor terrestre.





(Carlos Drummond de Andrade).

Um comentário:

  1. BOM DIA INTEIRO DE SEGUNDA-FEIRA E BOA SEMANA INTEIRA COM: AMOR: PALAVRA ESSENCIAL!!!

    ResponderExcluir