quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O INACABADO QUE HÁ EM MIM






Eu me experimento inacabado (a). 
Da obra, o rascunho. 
Do gesto, o que não termina.
Sou como o rio em processo de vir a ser. 
A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. 
O rio é a mistura de pequenos encontros. 
Eu sou feito (a) de águas, muitas águas. 
Também recebo afluentes e com eles me transformo.
O que sai de mim cada vez que amo? 
O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? 
Eu me transformo em outros? 
Eu vivo para saber. 
O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. 
O que sei é que a Vida me afeta com seu poder de vivência. 
Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. 
Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.
Por vezes o cansaço me faz querer parar. 
Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. 
Os encontros são muitos, as pessoas também. 
As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. 
É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.
Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.
Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras. 
Viver para sorver os novos rios que virão.
Eu sou inacabado (a). 
Preciso continuar.
Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na Vida. 
A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. 
Um dia sou multidão, no outro sou solidão. 
Não quero ser multidão todo dia. 
Num dia experimento o frescor da amizade, no outro a febre que me faz querer ser só. 
Eu sou assim. 
Sem culpas.






(Padre Fabio de Melo).

Um comentário:

  1. BOM DIA INTEIRO DE QUARTA-FEIRA E MUITA SORTE COM: O INACABADO QUE HÁ EM MIM!!!

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